aconteceu há duas semanas. era um dia bem ensolarado e Paris estava tentando me convencer de que a vida valia mesmo à pena.
andando da Batille até a Ile de Saint-Louis, uma coisa chamou minha atenção: um pombo morto. e, é claro, uma pequena mancha de sangue ao seu redor.
sem saber muito o que fazer, fiquei apenas olhando para ele. ainda tentando decidir se era engraçado ou triste. afinal, não é todo dia que se vê um pombo morto.
de repente, veio uma menininha loira correndo na minha direção. alegre e saltitante, de uma ingenuidade que se via a olhos nus. quando ela viu o pombo morto aos meus pés, perguntou:
-Uh la la! Il est mort?
-Oui, eu disse fácil e rapidamente
-Mais, pourquoi?
(...)
- je ne sais pas!
bem, eu realmente não sabia! o que podia dizer, afinal? até porque, a resposta que ela queria, eu nunca poderia dar. outra pessoa poderia até dizer "Porque ele estava doente’’ ou, mais friamente, "Porque o mataram".
mas não foi isso que ela perguntou. aquela criança não me perguntou COMO o pombo havia morrido. sua pergunta foi bastante clara: pourquoi?
por que tinha ele morrido, afinal? talvez pela mesma razão pela qual todo mundo morre. porque tudo que é vivo morre. porque é o ciclo da vida. porque a morte é aleatória. porque blá blá blá. mais, pourquoi?
enquantos todos esses porquês passavam pela minha cabeça, a mãe da menina apareceu. e assim que viu o pombo morto e ensangüentado no chão gritou:
-Não toca!
e a menina, nunca satisfeita, fez novamente a pergunta mais inquietante e difícil de se responder. pergunta essa, que os adultos deveriam fazer mais, por mais que as respostas custem a aparecer.
-Pourquoi?
mas, dessa vez, a mãe soube responder. e com uma única frase acabou com toda a poesia do momento:
-Porque é sujo!
3 comentários:
Começou bem! ;)
Adorei!
Requer sensibilidade ver a poesia das pequenas coisas e nos menores detalhes.
Sem dúvida essa é a Paris mais interessante de todas!
Ai, adultos! Sempre tão frios e diretos.
Curti demais, Ju.
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